Esta
viagem veio meio como uma boa surpresa. Confesso que ainda
me sentia cansada da última e intensa aventura em
Groenlândia e estava conformada a passar este verão
no desfrute de minha terra natal. Mas a história
se formou quase por si só e quando vi lá estava
eu e mais três bons amigos, indo rumo ao desconhecido,
as grandes paredes de Cochamo!
Este lugar de beleza impar e selvagem se encontra a 100km
de Puerto Montt, Chile , fazendo parte da cordilheira andina.
Fazia parte da expedição Dálio Zippin
e Maurício Clauzet que formariam dupla e cuidariam
da parte fotográfica e vídeo, Karina Filgueiras
e eu como dupla feminina a aventurar-se naquelas maravilhosas
paredes, algo bem raro para duas brasileiras. Resolvemos
descer em carro os 3.500 km de estrada onde teve início
nosso pequeno vídeo.
Depois de quatro dias de muita poeira e estradas quase intermináveis
chegamos ao pequeno vilarejo de Cochamo, onde contratamos
cavalos que auxiliariam nosso transporte até a base
das paredes do conjunto montanhoso Trinidad. Quase seis
horas de caminhada por um terreno acidentado e um visual
surpreendente, beirando todo o tempo um rio que descia desde
alto do vale, cada vez que entravamos para dentro do vale
mais selvagem se sentia o ambiente.
Depois de um longo e puxado percurso, chegamos na fabulosa
base de um vale infestado de paredes que variavam de 500
a 1000 metros de altura, para tirar o fôlego!
Descansamos e nos acomodamos bem em nosso novo lar por vinte
dias, onde a lei era viver o presente e desfrutar aquela
babilônia em granito.
A
escalada:
Começamos pela menor agulha granítica, Gendarme,
que já deu para tremer as pernas, o estilo de escalada
resultava exigente psicologicamente.
Levou alguns dias mais de escalada antes de realmente sentirmos
encorajadas a provar uma via mais difícil e comprometida,
tudo há seu tempo.
Por fim, chega o dia, escolhemos uma bonita via em estilo
tradicional, ou seja, sem bolts toda protegida em friends
e fissureros, de 500 metros e de certa forma comprometida
por não podermos rapelar por ela, na Pedra do Gorila.
No começo nos sentíamos um pouco tensas, mas
a fluidez não tardou em chegar, subimos rápido
e boa parte em simultâneo, tendo problemas apenas
no final, onde infelizmente acabei me perdendo num sistemas
de fendas nada agradáveis. Por sorte e com tranqüilidade
conseguimos resolver a situação e encontramos
nossos amigos começando os rapéis. Com esta
investida nos sentimos saciadas de aventura apimentada e
com a certeza de que podemos seguir escalando juntas, nada
melhor que situações limitantes para se conhecer
realmente.
Informações:
Cochamo é um potencial em paredes para estilo alpino
e big wall, a rocha é composta de sistemas de fendas
em um resistente granito perfeito para friends tipo off-set
por apresentar suas fendas mais arredondadas. Pode-se ir
direto de Santiago, capital chilena, até Puerto Montt
e de aí um pequeno ônibus para Cochamo.
Vai o super toque também com relação
ao lixo, é necessário traze-lo de volta. Foi
muito desagradável estar num lugar tão especial
com marcas bem grandes de outros acampamentos de escaladores.
Aconselho uma boa dose de escalada em Salinas no Rio de
Janeiro e Frey em Bariloche, antes de se aventurar por aquelas
lindas paredes, sinceramente, são exigentes psicologicamente.
É necessário contratar cavalos para a aproximação
e levar alimentação para o período
integral de estadia. A época favorável é
de dezembro a final de março, com sorte pode-se ter
belíssimos dias ensolarados.
Não
se assuste com a intensa visita de vários tipos de
tábanos, parecidos com as nossas butucas(mosquito)
de rio, uns tanto vorazes.
Acredito ter ao todo 15 rotas de escalada conquistadas neste
últimos cinco anos por cordadas de várias
partes do mundo.
Qualquer dúvida entre em contato.
Roberta
Nunes