Patagônia 
                      2006
                     
                    PRIMEIRA 
                      PARTE
                      De 
                      Curitiba a Bariloche
                    Foi 
                      em uma conversa entre amigos, que por coincidência 
                      tinham o mesmo sonho de escalar 
                      o pico Fitz Roy na patagônia Argentina, que surgiu 
                      a expedição “Patagônia 2006”, 
                      em agosto de 2005. Inicialmente composta por Maurício 
                      Clauzet, Dálio Neto e Roberta Nunes, mais tarde entrou 
                      para o grupo o fotógrafo e escalador americano Sean 
                      Leary.
                    Nossa 
                      proposta era tentar realizar uma ascenção 
                      integral brasileira ao Fitz Roy em seus 3.345m de altitude, 
                      uma das montanhas mais difíceis de nosso planeta, 
                      fato inédito para nosso país até hoje.
                    Já 
                      ocorreram algumas ascenções brasileiras, mas 
                      nunca uma integral.
                    Tenho 
                      uma longa jornada na patagônia e esta seria minha 
                      sétima temporada. Já estive duas vezes bem 
                      próxima ao cume do Fitz Roy , não podendo 
                      prosseguir devido a tempestades de neve...
                    Montei 
                      o projeto em cima deste desejo, de forma simples e direta 
                      para apresentar aos patrocinadores, tornando-se assim mais 
                      viável a sua realização, com a proposta 
                      da escalada e de um documentário sobre a viagem de 
                      dois meses pela cordilheira andina, vinculados com a televisão: 
                      SPORTV e ESPN.
                    Foram 
                      quatro meses de apresentações e reuniões 
                      até firmar os apoios e patrocinadores. Estava tudo 
                      acontecendo perfeitamente, paralelamente entramos em um 
                      ritmo de treinos, estratégias e organização 
                      dos equipamentos necessários para a viagem.
                    Por 
                      sorte contamos com o patrocínio da Nissan, nos emprestando 
                      um carro confortável, amplo espaço e forte 
                      como o XTERRA, seriam 10.000 km rodados com muita bagagem!!!
                    Saímos 
                      de Curitiba dia 29 de dezembro às 5 horas da manhã 
                      com um friozinho na barriga e 
                      a sensação daquele sonho tão esperado 
                      estar apenas começando. Foram 
                      3 dias de estrada até chegar em Bariloche, Argentina, 
                      nossa primeira parada longa. A 
                      estrada se encontrava em ótimas condições 
                      e sem muito tráfego, não tivemos nenhum problema.
                    Chegando 
                      em Bariloche organizamos tudo e subimos para suas montanhas 
                      locais, Cerro Catedral, por dez dias, para treinar e aclimatar-se 
                      ao granito rochoso e a instabilidade climática patagonica...
                    Levamos 
                      bastante chuva e neve nas costas, Bariloche não parecia 
                      estar no alge de seu verão... Mas 
                      com certeza não deixou de ser importante esta fria 
                      aclimatação para nossos próximos meses 
                      mais ao sul.
                    No 
                      Cerro Catedral tivemos a opurtunidade em um belo e raro 
                      dia ensolarado a escalada de seu maior pico, a agulha Principal 
                      2.200m, podemos filmar toda a aventura e a beleza vista 
                      lá do alto, vimos que era possível desempenhar 
                      um bom trabalho de filmagem e uma escalada emocionante.
                    Dito 
                      e feito, as imagens ficaram lindas e como um passe de mágica 
                      logo após veio o mau tempo que permaneceu por mais 
                      vinte dias nesta região.
                    Hora 
                      de trocar de ambiente e ir ao nosso principal objetivo, 
                      Fitz Roy, em Chaltén, 1.500km mais ao sul. 
                    Foram 
                      um dia e meio de viagem, contando com uma paisagem incrível 
                      dos pampas e estradas em rípio proporcionando aquele 
                      sabor real de aventura. A maior emoção foi 
                      justo quando estávamos há uns 50km de Chaltén, 
                      onde podemos ver toda sua esplendorosa cordilheira, imponente 
                      contornada por glaciares que vão de encontro ao gelo 
                      continental.
                    Realmente 
                      é emocionante, coração bate mais forte 
                      e paira um sentido contemplativo com tal beleza natural. 
                      Sim estávamos todos diante de nosso maior sonho. 
                      
                    
                     
                      
                    SEGUNDA 
                      PARTE
                       
                      De Bariloche a Chaltén. 
                    Depois 
                      de algumas semanas de muito mau tempo no Cerro Catedral 
                      em Bariloche resolvemos prosseguir com nossa viagem ao sul 
                      argentino.
                    A 
                      viagem pela ruta 40, em rípio, foi bem tranqüila 
                      e produtiva para fotos e imagens devido as maravilhosas 
                      paisagens do pampa com o contraste do céu patagonico. 
                      Geralmente esta viagem leva 3 dias com carros convencionais 
                      e sem tração 4X4, graças ao XTerra 
                      gastamos apenas 1 dia e meio e já estávamos 
                      de frente para as montanhas de Chaltén.
                    Localizada 
                      na província de Santa Cruz, Chaltén, um pequeno 
                      povoado rodeado pela cordilheira montanhosa do Fitz Roy 
                      e Cerro Torre, atrai todos os anos centenas de trekkers 
                      e os melhores alpinistas mundiais com o sonho de galgar 
                      seus imponentes cumes.
                    Nós, 
                      Roberta, Sean, Dalio e Mauricio fazíamos parte agora 
                      desta comunidade também, onde estabelecemos diversos 
                      acampamentos e estratégias para nossas escaladas.
                    Como 
                      todos já sabem, Chaltén é famosa também 
                      por sua instabilidade climática, chegando a ser extrema 
                      muitas vezes em 
                      suas montanhas, com ventos que podem atingir 120km por hora!
                    Todo 
                      o cuidado é pouco, e tudo deve ser bem analisado 
                      logisticamente. Esta 
                      seria minha sétima temporada nestas terras tão 
                      inóspitas e tão intensas.
                    Nossa 
                      primeira tentativa foi ao Fitz Roy, Roberta, Mauricio e 
                      Dalio para uma ascenção integral brasileira, 
                      fato até hoje inédito para nós. Sean 
                      foi tentar a mesma montanha com seu companheiro americano 
                      por uma das rotas mais difíceis.
                    Estabelecemos 
                      acampamento em Rio Blanco e a partir daí realizamos 
                      alguns ataques até o passo superior, local das covas 
                      de gelo a seis horas do campo base e mais próximo 
                      a parede do Fitz, como duas horas cruzando um glaciar engretado.
                    Muitas 
                      horas de caminhada, com mochilas bem pesadas que as vezes 
                      chegavam fácil aos 30 quilos, com todo o material 
                      de escalada para rocha, gelo, comida, roupas, sacos de dormir, 
                      etc... Sem falar no Mauricio que tinha o peso extra das 
                      câmeras para obter um bom material em vídeo.
                    Estávamos 
                      fortes e preparados, mas infelizmente desta vez foi a montanha 
                      quem teve a decisão.
                    O 
                      Fitz Roy ( 3.441m) nesta temporada em específico 
                      encontrava-se em um estado atípico, em pleno final 
                      de janeiro completamente congelado, toda sua parede rochosa!!!!
                    Expulsando 
                      cordadas fortíssimas de todo o mundo, espanhóis 
                      franceses, americanos, alemães; apenas 5 cordadas( 
                      duplas de escaladores) das 40 que estavam na tentativa de 
                      subir a maior montanha de Chaltén conseguiram com 
                      muito sofrimento o cume nestes 
                      3 últimos meses.
                    Acidentes 
                      aconteceram, muitos escaladores baixavam com seus dedos 
                      praticamente congelados e assustados com as condições 
                      da parede. Sem 
                      falar nos curtos tempos de melhora climática que 
                      não chegavam a completar um dia inteiro...
                    Devido 
                      a todos estes fatores nossa tentativa não foi muito 
                      produtiva o que fez trocar os planos.
                    Dálio 
                      e Maurício se mudam para o outro vale, onde tem agulhas 
                      menores e que não envolvem tanto o gelo, infelizmente 
                      elegeram lindas agulhas que já havia escalado a cinco 
                      anos atrás, o que não me motivou muito para 
                      repeti-las; buscava algo novo ou o Fitz.
                    Junto-me 
                      a Sean para um plano um tanto arrojado e mais atrativo que 
                      as geladas paredes do Fitz Roy, ficando em outro campo base. 
                      Queríamos tentar duas montanhas em um dia, algo quase 
                      que impossível para a patagônia, sendo realizado 
                      por dois amigos americanos fortes em menos de 15 horas, 
                      o que nos deixou completamente entusiasmados.
                    Fomos 
                      para Pedra Del Fraile com carga para cinco dias, nosso plano 
                      era escalar a Guiullamet ( 2.593m) e a Mermoz( 2.754m) o 
                      mais rápido que pudéssemos, pois as condições 
                      não apresentavam 24 horas completas de bom tempo. 
                      Controlamos 
                      com o barômetro a pressão e em um dia tentamos 
                      com toda a força e esperança para que tudo 
                      desse certo.
                    Tivemos 
                      muita sorte! Conseguimos escalar no dia 26 de fevereiro 
                      de 2006 as duas montanhas em apenas dez horas!!!!!! Tivemos 
                      um grande susto com nossa volta rapelando, era noite e recém 
                      começava uma grande tempestade de neve, por sorte 
                      meu companheiro é um excelente alpinista e conseguimos 
                      nos manter calmos e confiantes até retornarmos para 
                      nossa barraca o que nos tomou um grande tempo.
                    Acabei 
                      me tornando a segunda mulher no mundo a realizar este feito, 
                      que chega a ser quase que um sonho em Chaltén, de 
                      dois grandes cumes em poucas horas. A outra mulher a realizar-lo 
                      foi a americana Steph Davis, uma das mais fortes escaladoras 
                      dos Eua, com seu marido Dean Potter nesta mesma temporada, 
                      motivo de nosso entusiasmo.
                    Retorno 
                      ao campo base 3 kilos mais magra, mãos raladas e 
                      com uma alegria que explodia em meus olhos por tanta emoção 
                      e por estar viva!
                    Encontro 
                      Dálio que me conta feliz de suas escaladas pela Saint 
                      Exupéry, Mermoz e Media Luna e Mauricio na Inominata 
                      em vinte dias que ficamos afastados em diferentes campos 
                      base.
                    Todos 
                      satisfeitos, começamos a pensar em voltar para casa 
                      já era a primeira semana de março, o clima 
                      começa a ficar cada vez mais frio e as oportunidades 
                      para escalar acabam por completo encerrando a temporada 
                      de 2006.
                    A 
                      volta para este lugar tão mágico é 
                      uma certeza, onde podemos sentir a intensidades dos minutos 
                      como momentos de uma real aventura.
                    Gostaria 
                      de agradecer a força e apoio de todos neste projeto 
                      sem vocês seria impossível esta realização!
                    Roberta 
                      Nunes 
                    patrocinadores 
                      : Nissan, Jasmine Alimentos, Snake, Vibram, Kodak e Kailash